Macaé, 23 de Outubro de 2012.
Querida avó,
Como eu queria que a senhora
estivesse aqui. Não sei dizer bem como seria: quais conselhos eu lhe pediria e
muito menos o que a senhora poderia me dizer. Só sei que eu ia sentar no colo
da senhora e fazer dengo pra ganhar pão de queijo e bolinhos de chuva.
É
engraçado porque as minhas lembranças, e tudo o que eu consigo projetar através
delas, giram em torno das minhas brincadeiras de menina; as minhas
despreocupações e quietudes. Naquela época eu não falava tanto. Faltava um
pedaço grande e importante de mim mesma, hoje não sei se recuperado ou
construído. Quando pensávamos no meu futuro, nós me víamos no Fantástico e no
Globo Repórter, substituindo Glória Maria e conhecendo o mundo. Talvez por isso
esse sempre tenha sido o meu maior desejo, o único sentimento verdadeiramente
autentico que eu sempre consegui identificar dentro de mim: ir ver o mundo. E
ser feliz assim. Porque nada a não ser conhecer de verdade o mundo poderia ser
fonte de felicidade. Imagine! O que
poderia ser melhor do que estar com a natureza e sentir a amplitude
da criação divina?
Tô apertada aqui, vó, dentro de mim mesma. Não sei se é
possível ser sempre feliz, mas eu bem queria reaver aquele sentimento bom que
me consumia quando saí de casa em Março último - quando eu renasci. Parecia
tanto a libertação!, como foi que eu cai novamente nesse buraco? Como foi que
eu entrei novamente nesse apertado? Tô tão sufocada, vó. Tô com vontade de
gritar, de correr, de vomitar, de chorar aos prantos e me rasgar inteira de dentro pra fora, pra ver se eu sinto algum alívio... E de novo eu sinto vontade de parar o tempo, de me
trancafiar num quarto muito branco, completamente ausente de sentimento e
pensamento e consciência. E de novo a velha sensação de não-pertencimento. Eu
não sou daqui, já sei. Há anos que eu sei.
Tô com saudade da senhora, vó. Mais uma coisa me consumindo.
Larinha.
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