domingo, 24 de outubro de 2010

Nesse vai e vem dos dias
o que me consome
é essa imensa vontade de voltar à infância
e rever aquele moço com a menininha, dizendo:
- Vem, minha pretinha! Olha amor, ela tá andando!
E a menina, sobressaltada, caindo de bunda no chão.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu, Lara.

    Na Antiguidade, os artistas gregos contavam a história de Lara, uma ninfa das águas. Lara era náiade do rio Almão e se relacionou com Hermes, um dos doze deuses olímpicos. Assim, Lara gerou duas crianças: os deuses gêmeos Lares – divindades domésticas encarregadas de proteger as casas.
    Com o passar do tempo na língua portuguesa a palavra “lar” adquiriu um significado subjetivo, designando algo que é mais do que uma casa. Um lar é um abrigo, um reduto de proteção. O lar da gente é o cantinho no qual nos refugiamos do restante do mundo. No nosso lar ser a gente mesmo basta.
     E agora, Lara que sou, concebi este Lar para que as letras, os versos e principalmente os sentimentos sejam livres, e protegidos, ganhem voz e nos libertem.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Praça, cemitério e igreja.

         
     
     A praça é um charme só. Desde que fundaram a cidade ela está lá com todo aquele aspecto de monumento histórico vivo. Há bancos, brinquedos, árvores, flores, velhos, crianças, sombra, sossego, brisa, alegrias. De manhã, podem-se ouvir os pássaros cantando. Apresentando seu show para quem puder ou quiser assistir. No fim da tarde, reúnem-se todos aqueles dispostos a bater um bom papo. As crianças brincam soltas. Alegres, divertem-se sem a supervisão dos pais. Um minutinho de liberdade. Mas há também o cemitério e a igreja.
     O cemitério é em muitos aspectos, o oposto da praça. Carregado de tristezas, dores e angústias. Das pessoas que se vão e daqueles que são obrigados a deixá-las ir. É um local de separação e despedidas. De tchau, até logo, vá com Deus e vá para Deus. Mas também há árvores, sombra, bancos, flores.
   A igreja é mais do que linda. Onde não há árvores, flores ou brisa, mas é a morada do sossego. Lugar de inquietações, como o cemitério, e busca de alívio. Lugar de reunião, como a praça. Há a missa de domingo, as beatas, o padre, o sino soando às seis em ponto, todos os dias. Há velas e santos. Promessas, pedidos, agradecimentos. Há fé.
   E em toda cidade como há gente, há (no mínimo) uma praça, um cemitério e uma igreja.   

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
[Carlos Drummond de Andrade]


Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
[Chico Buarque]


Quando eu nasci,
não veio anjo nenhum.
Esperei por certo tempo
(tempo demais)
e como não veio ninguém,
resolvi ser livre
resolvi ser, pensar e viver
do jeito que eu quiser.
[Eu]




o meu "muito obrigada" à dude e à marcella, desejando sinceramente que estejam orgulhosas do meu voo.